Tenho saudade
ajoelhar no barro e beber água
água limpa
correndo entre matas
fria e saborosa
matar a sede

Tenho saudade
ver lambaris
nadar contra a correnteza

Tenho saudade
do cantar das seriemas
dos pica-paus nas árvores
das maritacas tagarelando

Tenho saudade
ouvir o som da correnteza
do coaxar das rãs e sapos
garças pescando o alimento
pescar traíras na noite

Tenho saudade
de não trancar as portas
usar as redes na varanda para repousar
ouvir o som da água movimentando o moinho
acordar com o cantar dos pássaros
ouvir o vento soprar nas gretas das janelas

Tenho saudade
da calmaria da tarde
da claridade da lua
dormir com o som das pingadeiras da chuva
ouvir a alegria das crianças brincando na chuva calma
olhar o arco-íris no horizonte
das borboletas no jardim e nas flores do campo

Tenho saudade
de não ter medo
medo do homem