José Hilton Rosa

Sentimentos,  Poesias e Música

Textos

Diálogo entre o nativo de boné e a repórter
O interfone chama. Atendo! É Florbela do jornal...
Peço que aguarde, vou atendê-la. Entro no meu JEEP FORD 54, toco até o portão.
Vejo Florbela e mais outros.
Me identifico, ela agradece e pede desculpa.
Mas o senhor está saindo? Queria falar agora com o senhor.
Digo: Sim
Entre no JEEP e aguarde que eu feche o portão.
Ela: Mas...
Digo: calmo como sou, fico alegre quando tenho que buscar alguém no portão. Assim meu velho JEEP exercita seu motor.
De ré faz o percurso inverso até a cobertura de zinco.
Peço que desçam e sentem nas poltronas de pele seca, na varanda.
Vou até a cozinha, bebo um trago d’água de moringa. Trago e ofereço aos visitantes. Ofereço em taças de cristal, pura e fresca como nunca viram.
A repórter: Queria fazer algumas perguntas sobre...
Digo: se queria, então não quer mais. Por quê?
Mas se ainda quer posso atendê-la. Faço um elogio à sua face. Toco sua bochecha e digo com honestidade sem demagogia. Que rosa linda é seu rosto! Uma cor que me deixa soberbo, porque assino Rosa.  
Ela sorri marotamente e quase sem jeito pergunta:
Como escolheu este lugar para morar? Com uma resposta simples fiz risos entre eles.
O único lugar que me quis.
Fale um pouco de sua rotina neste lugar:
Quase sem querer, tomo uma água de moringa. Mastigo um favo de mel, escovo os dentes, coloco meu boné e me ponho na varanda, encostando na coluna de parajú. Aprecio o vento nas folhas, vejo o sol castigar as sensíveis flores. Peço paz para as plantas inocentes.
Fico ali olhando o tempo.
Lembro que combinei levar o café para limpar.
Coloco o tênis reservado para caminhada e corrida. Bermuda de anos atrás. Camiseta sem propaganda. Caminhando 10 km peço um favor. Voltando agradecido, me desnudo, ligo a mangueira no hidrômetro da COPASA e me delicio com o frescor daquela água.
Porque optou por viver aqui, assim?
É porque foi aqui que me acolheu como sou.
Falo bom dia, boa tarde e nem digo boa noite porque não tenho para quem dizer.
Como é sua noite? Vê televisão?
A noite não é minha; não sou egoísta. É de todos.
Televisão não sei ligar, porque não tenho.
Como se informa? Fica sabendo das noticias?
Me informo com o tempo.
As noticias boas sinto no ar puro, inocente.
As más, ouço nas fofocas pelas bocas malditas, que soam pelo vento.
A última pergunta Sr... _Como é dormir sozinho neste lugar?
É muito tranqüilo e sem trabalho. Desligo todas as lâmpadas, coloco um copo d’água próximo à cama. Cubro como nasci, apenas com minha pele.
Faço minha oração com os olhos fechados e digo amém.
Que tipo de oração o Sr. Faz?
A última pergunta você já fez... mas...
Faço a oração do desejo.

J.Hilton
Jose Hilton Rosa
Enviado por Jose Hilton Rosa em 05/10/2020


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras